O chamado de Abraão

O chamado de Abraão
E o Chamado?

Génesis 12:1-8

1 Então o Senhor disse a Abrão: “Saia da sua terra, do meio dos seus parentes e da casa de seu pai, e vá para a terra que eu lhe mostrarei.

2 “Farei de você um grande povo, e o abençoarei. Tornarei famoso o seu nome, e você será uma bênção.

3 Abençoarei os que o abençoarem, e amaldiçoarei os que o amaldiçoarem; e por meio de você todos os povos da terra serão abençoados”.

4 Partiu Abrão, como lhe ordenara o Senhor, e Ló foi com ele. Abrão tinha setenta e cinco anos quando saiu de Harã.

5 Levou sua mulher Sarai, seu sobrinho Ló, todos os bens que haviam acumulado e os seus servos, comprados em Harã; partiram para a terra de Canaã e lá chegaram.

6 Abrão atravessou a terra até o lugar do Carvalho de Moré, em Siquém. Naquela época os cananeus habitavam essa terra.

7 O Senhor apareceu a Abrão e disse: “À sua descendência darei esta terra”. Abrão construiu ali um altar dedicado ao Senhor, que lhe havia aparecido.

8 Dali prosseguiu em direção às colinas a leste de Betel, onde armou acampamento, tendo Betel a oeste e Ai a leste. Construiu ali um altar dedicado ao Senhor e invocou o nome do Senhor.

Resumo da passagem

A passagem narra o chamado de Abraão, que mais tarde seria reconhecido como o pai da nação judaica e um exemplo de fé e obediência. Esta narrativa oferece profundos ensinamentos sobre a natureza de Deus, a identidade humana e o relacionamento esperado entre Deus e a humanidade. Analisemos, pois, cada um desses pontos separadamente.

  1. Quem Deus é?

A. Deus é um ser pessoal

Em geral, as pessoas tendem a conceber Deus como um ser impessoal, uma espécie de força ou energia desprovida de atributos pessoais. No entanto, esta passagem corrige essa conceção equivocada ao evidenciar que Deus é um ser pessoal, possuindo atributos próprios de uma pessoa. Ele comunica-se (v.1, 4, 7) e estabelece relacionamentos (v.7b).

 

B. Deus fala

Versículo 1a: Então o Senhor disse a Abrão

Versículo 7a: O Senhor apareceu a Abrão e disse:

Versículo 4a: Partiu Abrão, como lhe ordenara o Senhor

O Deus Supremo, Criador dos céus e da terra, digna-se a comunicar-se com Suas criaturas. Hoje, ainda podemos ouvir a voz de Deus. Ele continua falando, embora de maneira distinta. Com Abraão e os profetas, Deus falava através de teofanias (manifestações visíveis de Sua presença), sonhos e visões. Contudo, após a conclusão das Escrituras Sagradas (a Bíblia), Deus passou a comunicar-se principalmente por meio dela. Isso significa que, ao lermos a Bíblia, estamos ouvindo a própria voz de Deus.

Ao falar, Deus nos ordena (v.1a, 4a, 7a), como abordaremos no próximo ponto, mas também nos encoraja ao fazer promessas maravilhosas (v.7).

C. Deus é Senhor

Versículo 1a: Então o Senhor disse a Abrão

Versículo 7a: O Senhor apareceu a Abrão e disse:

Versículo 4a: Partiu Abrão, como lhe ordenara o Senhor

A palavra “Senhor” é um título que denota autoridade suprema, sendo atribuída a Deus, que exerce soberania sobre tudo e todos. Portanto, a Ele devemos plena submissão. Este título divino é, particularmente, atribuído a Jesus Cristo no Novo Testamento. Assim como Deus Pai, Jesus possui autoridade suprema, o que implica que a Ele também devemos nossa submissão. Submetemo-nos a Deus na medida em que O ouvimos por meio de Sua Palavra e aplicamos Seus ensinamentos em nossas vidas, praticando Seus mandamentos (Tiago 1:22).

Na passagem bíblica, Deus manifesta Sua soberania ao dirigir-se a Abraão com uma ordem clara: “Saia da sua terra, do meio dos seus parentes e da casa de seu pai, e vá para a terra que eu lhe mostrarei.” O carácter imperativo dessa instrução é confirmado no versículo 4, que afirma: “Partiu Abrão, como lhe ordenara o Senhor.” Deus, como Senhor, detentor de toda autoridade, tem a prerrogativa de nos ordenar o que devemos fazer. E, de fato, Ele continua a nos instruir por meio de Sua Palavra.

D. Deus é gracioso

Versículos 1, 2 e 3

Abraão, antes de ser chamado por Deus, não conhecia o verdadeiro Deus e nada fez para merecer tal privilégio. No entanto, em Sua graça, Deus tomou a iniciativa e o chamou.

Em Josué 24:2, Deus mesmo testemunha que Abraão servia a outros deuses, revelando que ele era idólatra e estava engajado na adoração de divindades pagãs. Abraão não buscava a Deus; ao contrário, estava afastado d’Ele, preso à cegueira da idolatria. Porém, foi justamente por meio de Sua graça que Deus tomou a iniciativa de chamar Abraão, convidando-o a abandonar sua vida de idolatria e a viver em comunhão com o único e verdadeiro Deus.

De forma semelhante, Deus age em nossas vidas. Ele é quem toma a iniciativa da salvação. As palavras de Jesus em João 15:14 resumem essa verdade ao declarar: “Não foram vocês que me escolheram; pelo contrário, eu os escolhi…”

Vale ressaltar também que Deus prometeu abençoar alguém que ainda vivia na idolatria, demonstrando Sua imensa graça e misericórdia.

E. Deus é um Deus de promessa.

Os versículos 2 e 3 revelam promessas maravilhosas feitas por Deus a Abrão. Deus promete tornar Abrão um grande povo e abençoá-lo de forma abundante. Ele se compromete a mostrar-lhe uma terra, a fazer dele uma grande nação e a utilizar essa nação para abençoar toda a humanidade. Em outras palavras, Abrão e seus descendentes seriam o canal por meio do qual Deus derramaria Suas bênçãos sobre todos os povos da terra.

Abraão tornar-se-ia conhecido para milhões de pessoas como uma das grandes personagens da história. Ele se tornaria o pai dos fiéis, o progenitor de várias raças, incluindo o veículo que seria Israel. Ele foi o mais proeminente membro da genealogia do próprio Messias.[1]

O Senhor, aquele que detém toda autoridade e, por essa razão, tem a prerrogativa de nos ordenar como agir, é também um Deus que faz promessas maravilhosas. Ele não se limita a dar ordens, mas, com graça, promete; e, uma vez que faz uma promessa, Ele é fiel para cumpri-la.

 

  1. Quem nós somos?

A. Naturalmente idólatras

Conforme mencionado anteriormente, a partir de Josué 24:2, Abraão era idólatra e servia a outros deuses. A idolatria, de maneira fundamental, consiste em colocar algo ou alguém acima de Deus ou em Seu lugar, e Abraão praticava exactamente isso. De facto, ele era naturalmente idólatra, ou seja, nasceu com uma natureza pecaminosa, cuja característica principal é a idolatria.

Da mesma forma, todos nós somos naturalmente idólatras. Nascemos com uma inclinação pecaminosa que, essencialmente, se manifesta na idolatria, ao colocar coisas ou pessoas acima do verdadeiro Deus. Seja o ser humano mais simples ou o mais instruído, seja o mais pobre ou o mais rico, independentemente de sua cultura, povo ou raça, todos nascem com essa tendência, e ao longo de suas vidas, para sua própria condenação, apenas a manifestam.

B. Dependente da acção divina para libertação do pecado

Abraão estava imerso em uma religião idólatra e não buscou a Deus por conta própria. De fato, à luz da doutrina sobre os efeitos do pecado no ser humano, podemos concluir que Abraão jamais buscaria a Deus por sua própria iniciativa. No versículo 1, vemos que não foi Abrão quem buscou a Deus, mas foi Deus quem se revelou a ele.

Com relação a nós, não é diferente. Sem a ação divina, ninguém poderia buscar a Deus. Como Jesus afirmou: “Não fostes vós que me escolhestes a mim; pelo contrário, eu vos escolhi a vós outros…

  1. Que relacionamento se espera entre Deus e o Homem?

Fé e obediência

Versículo 4

Diante da ordem divina acompanhada das promessas, Abraão confiou nas palavras de Deus e agiu em obediência à Sua vontade. Ele obedeceu ao Senhor pela fé, saindo da casa de seus pais e, com decisão, dirigindo-se para um lugar que ainda desconhecia, aguardando que Deus lhe mostrasse o caminho.

Este é também o modelo esperado em nosso relacionamento com Deus. Espera-se que, pela fé, obedeçamos a todas as orientações de Deus para nossas vidas, em todos os aspectos.

Assim como Abraão, somos chamados a ser pessoas de fé, uma fé que é justificada pelas obras (Rm. 4:1-3; 4:16; Hb. 11:8-19; Tg. 2:21-23). Uma fé cujo objeto é ninguém mais a não ser o homem do Calvário, nosso Senhor Jesus Cristo, que morreu pelos nossos pecados e ressuscitou para a nossa justificação.

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