Oração: “uma prática necessária”

Oração: “uma prática necessária”

Parte 2

          No primeiro artigo, defendi a tese segundo a qual nós, filhos de Deus, devemos orar de forma intencional, contínua e independente das circunstâncias. Neste, entretanto, meu intento é apresentar as razões pelas quais o crente deve orar dessa maneira. Dentre vários motivos, destacarei dois, a saber: porque é um mandamento e porque é um dos meios pelos quais Deus concede aos cristãos vitórias espirituais. Observemos, então, com mais atenção

1ª Razão

O crente deve orar de forma intencional, constante e em todas circunstâncias porque é um mandamento.

          Nas Escrituras, encontramos diversos versículos que abordam a oração como um imperativo divino para o Seu povo. Deus ordena que o Seu povo ore de forma intencional, contínua e sincera. Observemos dois versículos que destacam esse ponto:

1 Tessalonicenses 5:17

Orem continuamente

          Este versículo, inserido num contexto onde encontramos vários imperativos divinos para o Seu povo, é também um mandamento divino. Assim como “alegrar-se sempre” (v. 16), “em tudo dar graças” (v. 18), “não apagar o Espírito” (v. 19), “não desprezar as profecias” (v. 20), “examinar todas as coisas e reter o que é bom” (v. 21) e “abster-se de toda forma de mal” (v. 22) são ordens divinas que devem ser humildemente acatadas, orar sem cessar (v. 17) também o é.

          Orar sem cessar não implica necessariamente numa atividade ininterrupta de se ajoelhar e interceder, mas sim em adotar um estilo de vida caracterizado por uma atitude constante de oração. Portanto, embora seja prudente reservar horas específicas para orar, como discutido no artigo anterior, não devemos restringir a prática da oração a esses períodos. Podemos, por exemplo, dedicar as primeiras horas do dia à oração antes de irmos para o trabalho, a escola ou qualquer outro lugar, mas não devemos limitar a nossa vida de oração a esse período. Em vez disso, ao longo do dia, em todos os momentos, devemos direcionar nossos pensamentos a uma postura de oração.

Efésios 6:18

Orem no Espírito em todas as ocasiões com toda a oração e súplica.”

          Como é seu costume, nas suas cartas, Paulo dedica os primeiros capítulos ao tratamento das questões doutrinárias e, posteriormente, aborda as questões práticas. Em Romanos, por exemplo, após onze capítulos predominantemente doutrinários, ele prossegue nos capítulos restantes exortando os crentes a viverem de acordo com essas doutrinas. A carta aos Efésios segue a mesma linha. Nos primeiros três capítulos, Paulo discute os mais elevados privilégios espirituais concedidos à Igreja em Jesus, e a partir do quarto capítulo, ele enfatiza que a vida prática da Igreja deve estar em consonância com o elevado chamado que ela recebeu (Efésios 4:1).

          Dessa forma, viver em união (Efésios 4:2-6), rejeitar o comportamento ímpio do passado à luz da renovação que Cristo produziu no crente (Efésios 4:17-24), viver uma vida caracterizada pela justiça (Efésios 4:25-32), pela pureza (Efésios 5:7-14), pela sabedoria (Efésios 5:15-20), pela submissão (Efésios 5:21–6:9) e comportar-se triunfantemente em Cristo por meio do contínuo fortalecimento em Cristo e do poder que Ele disponibiliza são formas pelas quais nós, filhos de Deus, vivemos de modo digno da vocação que recebemos em Cristo (Efésios 4:1). Incluso nesses aspectos está o imperativo aos crentes de orarem no Espírito em todas as ocasiões, com toda oração e súplica (Efésios 6:18). Ou seja, quando não oramos com frequência, não estamos vivendo de acordo com a vocação que recebemos de Deus, pois não nos apropriamos da armadura de Deus por meio da oração.

          Uma vez que a oração é um dever que nos foi dado por Deus, pecamos sempre que negligenciamos esse dever. A falta de oração constitui pecado porque é uma tentativa sutil e desdenhosa de afirmar a auto-suficiência humana. Quando não oramos, pecamos porque estamos declarando que somos capazes, por nós mesmos, de fazer e ser o que Deus deseja que façamos e sejamos.

2ª Razão

É o meio ou um dos meios através do qual Deus nos dá vitória espiritual diante de vários obstáculos

          Quando não oramos de maneira intencional, constante e em todas as circunstâncias, privamo-nos da força espiritual que experimentaríamos caso o fizéssemos. Por que muitos crentes se sentem tão enfraquecidos? Por que tantos vivem vidas insensíveis aos seus próprios pecados, bem como aos pecados da igreja e do mundo? Por que tantos caem repetidamente nos mesmos pecados, sempre que são tentados? Por que tantos crentes sofrem de depressão e ansiedade? Provavelmente, a resposta para todas essas perguntas seja a mesma: a falta de oração.

          Em Lucas 22:46, Jesus disse aos seus discípulos que deveriam orar para não caírem em tentação. A partir desse e de tantos outros versículos bíblicos, entendemos que aqueles que não oram estão mais propensos a ceder à tentação em comparação com aqueles que oram. Embora a prática da oração não garanta que aqueles que a praticam nunca venham a pecar, garante que estarão mais preparados para resistir aos impulsos carnais.

          Não é segredo para ninguém que o maligno constantemente tenta levar os filhos de Deus ao pecado. Ele não descansa. Ele é como um leão que ruge ao nosso redor, procurando alguém para devorar (1 Pedro 5:8). E ele tem um grande aliado nessa empreitada, que é a nossa carne, a natureza pecaminosa que, embora mortificada pelo poder do Espírito Santo, ainda habita em nós. Ele não só se alia à nossa carne, mas também ao mundo, que, segundo as Escrituras, é um sistema invisível e espiritual composto por filosofias e práticas que se opõem à obra de Deus e ao Seu ungido. O diabo é o líder desse mundo, e este está sob seu domínio (1 João 5:19). Este mundo, com seus desejos da carne, dos olhos e da soberba da vida, oferece o contexto propício para a satisfação dos desejos da velha natureza que ainda tenta – e às vezes consegue – se manifestar na vida dos crentes. E qual é uma das armas mais poderosas para não nos rendermos a essas artimanhas malignas? A oração.

Conclusão

          Nos dois artigos que escrevi, procurei defender a tese de que nós, filhos de Deus, temos a responsabilidade de orar de maneira intencional, constante e independente das circunstâncias, pois, ao fazê-lo, estaremos obedecendo a Deus e nos valendo de um dos meios pelos quais Ele nos concede a graça para vencer todo tipo de tentação e ter uma comunhão mais profunda com Ele.

Espero sinceramente que Deus, em Sua graça, nos desperte e nos leve de volta à prática do que nunca deveríamos ter deixado de fazer. Que nosso Senhor Jesus nos leve a imitá-Lo também neste aspecto, pois Sua vida de oração enquanto esteve neste mundo e Seu ministério de intercessão, hoje, à direita do Pai, são o supremo exemplo de vida de oração que se espera de todos os cristãos.

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