O Deus dos cristãos é o mesmo das Religiões Tradicionais Africanas?

O Deus dos cristãos é o mesmo das Religiões Tradicionais Africanas?

          Edson da Luz, um cantor moçambicano falecido recentemente (2023), em uma de suas músicas disse: “A minha religião também é verdadeira. A minha catedral é a palhota da curandeira.” Religiosamente falando, esta declaração sintetiza o que o africano sem Cristo é e acredita. Primeiramente, ele é apologista de sua cultura e de suas tradições religiosas, que, em grande parte, são profanas e blasfemas. O africano está convicto de que suas crenças sobre seu deus e o relacionamento deste com os Homens são verdadeiras. Ele é comparado a Jezabel, a ímpia rainha e esposa de Acabe, que, mesmo diante da forte evidência demonstrada no monte Carmelo de que Baal não é Deus e, por isso, não deveria ser adorado, recusou-se a abandonar sua teologia errônea.

          E por que os africanos se recusam a reconhecer o Deus da Bíblia como o verdadeiro Deus? Porque, assim como todos seres humanos em seu estado natural, estão mortos em seus pecados e delitos. Eles vivem seguindo a presente ordem mundana, composta por valores e princípios que se levantam contra a obra de Cristo. Esses princípios e valores se expressam de diferentes maneiras de acordo com as sociedades e as culturas, mas têm em comum o facto de serem antagônicos à vontade de Deus. Eles têm um mesmo intento porque têm um líder e senhor em comum, que é o príncipe do poder do ar, Satanás, descrito nas Escrituras como o príncipe deste mundo e aquele que cega o entendimento dos descrentes. Os africanos sem Cristo são filhos e escravos do diabo, e por isso, consciente ou inconscientemente, fazem a vontade dele, na medida em que fazem suas próprias vontades e seguem os ditames antibíblicos das Religiões Tradicionais Africanas.

          Mas há pelo menos dois factores que fazem com que os africanos se firmem mais em sua crença. O primeiro é a sua índole de resistência a tudo que ameaça sua cultura; espírito este que ficou mais aguçado depois da tentativa iniciada pelo catolicismo, pelo menos em Moçambique, de, em nome da religião, suprimir da cultura africana elementos que lhe são próprios. É verdade que na cultura africana existem muitos elementos que não são bíblicos, contudo, existem outros que são. E estes elementos foram ignorados pelos evangelistas. Mas isso não resolve o problema; pois, ainda que os evangelistas reconhecessem os elementos que não são contrários à fé cristã, ao denunciar o erro dos elementos contrários, faria com que muitos incrédulos continuassem na defensiva, tentando advogar a favor de suas práticas mundanas, pelo facto de estarem escravizados por elas.

      O segundo factor são as manifestações sobrenaturais protagonizadas pelos demónios, que parecem corroborar com as proposições teológicas defendidas pelas Religiões Tradicionais Africanas. Na África, há muitas manifestações sobrenaturais de demónios durante as cerimónias realizadas em suas religiões. Quem nunca ouviu falar de situações em que curandeiros, afirmando estar a invocar espíritos de antepassados, ficaram possuídos por uma entidade espiritual que falavam exatamente como o antepassado que os curandeiros afirmaram estar invocando, revelando segredos que só o antepassado e poucos membros da família sabiam? Segundo as Escrituras, isso é manifestação dos espíritos imundos enganando os incrédulos; mas para os incrédulos, cegados por Satanás através dessas ideologias, é a prova de que a sua religião é verdadeira. O maligno se serve de milagres para prender os africanos no erro. Esta foi a mesma artimanha usada por ele para influenciar o faraó a não obedecer à ordem de Deus dada por meio de Moisés de libertar o povo de Israel. Lemos no sétimo capítulo de Êxodo que os encantadores egípcios fizeram alguns milagres semelhantes aos que Deus ordenou que Moisés fizesse. Eles fizeram isso pela influência e pelo poder de satanás. E esta acção fez com que faraó se sentisse mais animado a não libertar o povo escolhido. Assim acontece na áfrica; quando os curandeiros invocam espíritos para curar a enfermidade de algumas pessoas, ou quando ajudam outras a encontrar um emprego – o que acontece em alguns casos -, essas pessoas se firmam mais em suas religiões, sem saber que, apesar de terem recebido alguns benefícios, os mesmos não vieram da parte de Deus, mas do diabo, a fim de afastá-los mais do Salvador. O africano se baseia na máxima segundo a qual todos benefícios que o Homem goza vêm de Deus ou dos espíritos dos antepassados. Por isso, os curandeiros são considerados portadores da graça divina e instrumentos pelos quais Deus ajuda o seu povo, sobretudo no aspecto material.

        Ainda na primeira parte da declaração em análise, vemos como o africano fundamenta sua apologia em princípios do pluralismo religioso. O músico disse: “A minha religião também é verdadeira.” Não é isso que os africanos tentam defender? Eles não querem que o mundo reconheça sua religião como sendo a verdadeira, mas simplesmente como verdadeira. Eles não estão à procura de exclusividade para sua religião, mas querem que ela seja aceita como uma legítima expressão de fé; daí que um dos seus maiores apelos é por um diálogo com outras religiões, baseando no pressuposto de que todas religiões são verdadeiras e, por isso, não há nenhum crente superior ou mais correcto em sua crença do que o outro. Aparentemente, as Religiões Tradicionais Africanas não querem derrubar o cristianismo, apenas querem coexistir com ele. Querem um diálogo e, quem sabe, uma declaração de fé que permita a comunhão entre ambos.

         Que diremos diante disso? Bem, acredito que essa proposta é mais um motivo para nos afastarmos das Religiões Tradicionais Africanas. A proposta do cristianismo é que todo ser humano, independentemente da sua raça, tribo ou língua, deve se dobrar em arrependimento e fé diante de um único Senhor, Jesus Cristo. É somente através dele que o ser humano pode ser salvo. Deste modo, quando insistimos com nossos irmãos africanos que eles precisam abandonar suas falsas religiões e crer em Jesus, não estamos sendo intolerantes ou orgulhosos, mas amorosos e honestos, pois estamos lhes dizendo à verdade.

          E, em segundo lugar, baseado na declaração citada do músico, o africano acredita em tudo que a palhota representa e no que lá se faz. “A minha catedral é a palhota da curandeira”, disse o músico. Na perspectiva do curandeirismo, que é um elemento essencial das Religiões Tradicionais Africanas, a palhota ou “ndomba” é a casa dos espíritos, lugar de recolhimento, de concentração, meditação e oração; é o lugar de paz e é a casa de Deus. Estas palavras não são minhas, são de Mariana Martins, uma curandeira que dividiu com Paulina Chiziane a autoria do livro “Ngoma Yethu: O Curandeiro e Novo Testamento”. Notem que segundo esta definição, Deus e os espíritos habitam e são invocados no mesmo altar. E isso é uma abominação para o cristianismo. Contudo, repito, o africano acredita que tudo que ocorre ou está relacionado ao que ocorre na palhota do curandeiro, constitui a verdade divina.

          Uns dos objectos indispensáveis na palhota do curandeiro são as cabaças ou “magona”.  “Magona” se tornou um símbolo do curandeiro. É um recipiente natural usado pelo curandeiro para conservar remédios. Tem semelhança com o corpo humano: a parte de baixo é mais gordinha, simbolizando o corpo humano da cintura para baixo, e a parte de cima, mais pequena, que simboliza o peito. Os curandeiros afirmam que na cabaça (magona) colocam-se remédios essências para socorrer as doenças das pessoas, e que os espíritos, de vez em quando, vão lamber o mel. Afirmam ainda que é um objecto que se coloca no altar dos espíritos. Nessa ordem de ideias, podemos inferir que há uma relação indissolúvel entre a ndomba, a magona e o altar dos espíritos. Isso é importante saber, pois há alguns cristãos desavisados que acreditam que não é errado pedir ajuda aos curandeiros para a cura de doenças através de seus remédios. Mas, como disse, esses remédios tem uma ligação com os demónios, que os africanos costumeiramente chamam de espíritos. Logo, o que se faz na palhota, por ser consagrado aos demónios é idolátrico e abominável.

          Alguns de vocês, caros leitores, ainda acreditam nestas coisas. Oro para que Deus possa abrir vossos olhos, mostrar-vos a verdade e conduzi-los a uma igreja bíblica, caso estejam em uma igreja que fundamenta sua teologia nestas proposições. Dito isso, nos poucos parágrafos que se seguem, quero apresentar-vos a visão de Deus defendida pelas Religiões Tradicionais Africanas e posteriormente mostrar seus erros à luz do que as Escrituras ensinam.

          Alguns defensores das Religiões Tradicionais Africanas afirmam correctamente que já existia a crença num Deus na África antes mesmo da chegada do cristianismo através dos missionários ocidentais.[1] Não podemos negar essa afirmação. De facto, essa crença já existia. No entanto, negamos que esse deus seja o Deus descrito nas Escrituras. O deus adorado nas Religiões Tradicionais Africanas não é o verdadeiro Deus. É um ídolo criado a fim de satisfazer as vontades de seus adoradores. Por isso, Blanco e Suana, assim como outros defensores das Religiões Tradicionais Africanas, como Chiziane, estão errados em pensar que o cristianismo não veio implantar a noção de Deus em África, mas consolidar a fé no Deus Criador, Deus Supremo, Deus de todos os povos.

          Segundo as Religiões Tradicionais Africanas, o deus que eles adoram é o mesmo Deus que os cristãos adoram. Nwaigbo, escrevendo a respeito, disse que na perspectiva de criação, está claro que o Deus Criador da Religião Africana é igual ao Deus Criador da Religião Cristã[2]. Ora, segundo as Escrituras, o Deus criador é o mesmo Deus descrito em todas Escrituras. Assim sendo, quando os defensores das religiões africanas se limitam a comparar a Deus apenas em alguns aspectos, como no sentido da criação ou em qualquer outro, estão, na verdade, a dissecá-Lo e analisá-Lo em partes, o que é um erro, pois Deus um ente simples. Ele não é composto por partes.

          Os defensores dessa ideia apontam para o facto de que o Deus adorado pelos cristãos tem algumas semelhanças com o deus adorado nas Religiões Tradicionais Africanas. Por exemplo, afirmam que o Deus cristão é o Ser Supremo, que é o criador, sustentador e governante do universo, além de controlador do destino da humanidade. Ele é também um ser sobrenatural que é tanto transcendente como imanente. E essa transcendência não só significa que Ele é superior ao senso de percepção, mas também que as outras coisas no universo são absolutamente dependentes Dele para existirem. Também é imanente no sentido que Ele existe em todo lugar em uma forma puramente espiritual. Acima de tudo, Ele é concebido como onipotente, onisciente e supremamente bom. Por outro lado, o deus adorado nas Religiões Tradicionais Africanas é concebido como o ser supremo, criador e controlador do destino da humanidade.

          Ora, embora alguns conceitos atribuídos a Deus sejam semelhantes aos das falsas deidades africanas, devemos entender que o nosso Deus é completamente diferente. Permitam-me mostrar duas diferenças essenciais:

  1. O nosso Deus é tri-pessoal. Isso significa que o Deus descrito nas Escrituras, embora seja essencialmente um, subsiste em três pessoas, a saber: O Pai, O Filho e O Espírito Santo. As Escrituras ensinam que existe um e único Deus (Dt 6:5), cujos atributos são claramente conhecidos por meio da revelação bíblica. Por outro lado, as Escrituras ensinam que o Pai é Deus, o Filho é Deus e o Espírito Santo também é Deus. Com isso, a Bíblia transmite a verdade de que o Deus adorado pelos cristãos é triúno, ou seja, é um em essência, porém três em personalidade. Esse ensino é claro nas Escrituras. Contudo, as Religiões Tradicionais Africanas não admitem, em hipótese alguma, a divindade do Filho e do Espírito Santo. Na verdade, nas Religiões Tradicionais Africanas pouco se fala sobre Jesus e obre o Espírito Santo. No lugar destes, fala-se sobre os espíritos e antepassados, que são considerados como os intermediários entre Deus e os homens.
  1. O nosso Deus não divide sua glória com ninguém. Parte da expressão da glória de Deus está no facto Dele estabelecer, soberana e sabiamente, padrões pelos quais o ser humano deve viver. Todos padrões de conduta estabelecidos por qualquer autoridade humana devem estar de acordo com o padrão estabelecido por Deus; caso contrário, constitui uma flagrante desobediência a Deus; mais do que isso, é uma tentativa de colocar-se no lugar de Deus e roubar-Lhe a glória. Foi isso que Satanás quis que o primeiro casal fizesse. Ele disse a Adão e Eva que se eles comessem do fruto do conhecimento do bem e do mal, como Deus, seriam conhecedores do bem e do mal. Este conhecimento do bem e do mal envolvia o exercício de fazer julgamentos morais, assim com Deus fez continuamente no primeiro capítulo de Génesis, ao dizer que o que ele criara era bom. Ao tomar ilicitamente do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal, o casal declarou a autonomia humana e a tentativa de governar à parte de Deus. Esse acto de querer ter autonomia para exercer julgamentos morais e, com isso, poder estabelecer padrões de certo e errado à parte do Criador é também, uma tentativa de roubar a glória de Deus. E isso Deus não tolera. Deus disse que não dá Sua glória a ninguém (Isaías 42:8).

         Nas Religiões Tradicionais Africanas, a autonomia de estabelecer padrões de conduta não pertence unicamente ao ser supremo, mas também aos deuses e aos antepassados. Deste modo, a glória não pertence somente ao ser supremo, mas é compartilhada com outras entidades. Para o africano, existem leis de Deus e as leis estabelecidas pelos antepassados e pelos deuses menores que, situados abaixo do Ser Supremo, são como funcionários e agem como intermediários entre o Ser Supremo e o resto do universo, incluindo seres humanos.[3]

          Como vemos, o nosso Deus é diferente do deus (ou dos deuses) adorados nas Religiões Tradicionais Africanas. Posto isso, devemos nos guardar de sermos enganados pelos falsos líderes que afirmam que não há diferença entre o Deus adorado pelos cristãos e o deus adorado nas Religiões Tradicionais Africanas. O nosso Deus é Triúno; Ele não divide sua glória com nada e nem com ninguém. Ele é espírito puro, imanente e transcendente. Ele é bom, santo e justo. Somente a Ele devemos adorar, somente a Ele devemos servir.

Referências Bibliográficas

[1] Nwaigbo, F. (sd) Faith in The One God in Christian and African Traditional Religions: A Theological Appraisal.

[2] Idem. (sd) Faith in The One God in Christian and African Traditional Religions: A Theological Appraisal. P. 60.

[3] Pedro João Pereira Lopes. Religião Tradicional Africana em Moçambique: Seu Fundamento e Persistência.

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