Oração: “uma prática necessária”

Parte 1
Certo pastor iniciou seu sermão sobre a oração com as seguintes palavras: “A oração é um assunto necessário, não pelo que não sabemos, mas pelo que não fazemos”. Para esse pastor, assim como provavelmente para muitos de vocês, leitores, inúmeros cristãos, mesmo tendo conhecimento sobre a oração, não a praticam. Frequentemente ouvimos pregações sobre esse tema, tanto em nossas igrejas locais quanto em outros lugares, através de diversos meios. Além disso, lemos numerosos livros que abordam esse tópico e contamos com o testemunho de diversos homens e mulheres de Deus que, em seu tempo, se destacaram por sua vida de oração. Contudo, apesar disso, nos custa praticar essa disciplina. Sou batista, e é lamentável que, no meio ao qual pertenço, a oração seja um assunto muito ensinado, porém pouco praticado. Isso ocorre não apenas entre os batistas, mas também entre alguns grupos reformados.
Como reformados, devemos louvar a Deus pela herança teológica que recebemos e pelo elevado número de exemplos de homens e mulheres que, dentro do nosso contexto doutrinário, oravam e oram de maneira contínua e fervorosa. No entanto, como mencionado anteriormente, o estado da nossa vida de oração frequentemente revela que não estamos imitando nossos antecessores. As biografias dos homens de Deus do passado nos relatam grandes exemplos de dedicação à oração. Charles Simeon, a título de exemplo, orava das 4 às 8 da manhã; John Wesley dedicava duas horas diárias à oração; Lutero orava entre duas a três horas diariamente. Além disso, muitos outros, como Jonathan Edwards e Charles Spurgeon, eram zelosos na prática da oração.
Infelizmente, alguns pregadores, mesmo possuindo um entendimento aprofundado sobre o assunto, frequentemente se esforçam hipocritamente para apontar os defeitos nos olhos de seus ouvintes, enquanto ignoram os próprios. Outros, na tentativa de tranquilizar suas consciências acusadas pela negligência na vida de oração, afirmam que não é necessário orar por um longo período de tempo, alegando que quem o fizer estará praticando vãs repetições. Concordamos, com base nas Escrituras, especificamente em Mateus 6:7, que nosso Senhor Jesus ensinou contra as vãs repetições na oração. Não devemos, à semelhança dos pagãos, pensar que seremos ouvidos por muito falar. No entanto, realizar longas orações não significa necessariamente fazer vãs repetições. Além do mais, não há nenhum texto bíblico que condene orações vigorosas e extensas. Assim sendo, esses irmãos desconsideram que, embora o crente de facto corra esse risco, não é correcto crer ou afirmar que fazer orações longas significa, necessariamente, usar de vãs repetições.
Na verdade, os Evangelhos ensinam-nos que o nosso Senhor Jesus, no seu ministério terreno, dedicou longos períodos à oração. Ele costumava levantar-se cedo, pela manhã, para ter comunhão com o seu Pai. À noite, frequentemente retirava-se para o Monte das Oliveiras ou algum outro lugar tranquilo para orar, conforme lemos em Lucas 6:12:
“Num daqueles dias, Jesus saiu para o monte a fim de orar, e passou a noite orando a Deus.”
Jesus não apenas fazia orações contínuas e vigorosas, mas também incentivava os Seus discípulos a fazerem o mesmo. Jesus disse em Lucas 21:36:
“Vigiai, pois, a todo tempo, orando, para que possais escapar de todas as coisas que têm de suceder.”
Será que, com o excerto acima, estou a querer defender a tese de que o crente deve, à semelhança dos grandes heróis da fé do passado, orar mais de duas ou três horas diariamente? Ora, seria desejável que isso acontecesse; contudo, esse não é o argumento que pretendo defender. Antes, o meu objectivo é advogar que, segundo as Escrituras, a prática da oração por parte dos crentes deve ser, entre outras coisas, intencional, constante e independente das circunstâncias.
- A prática da oração deve ser intencional
A palavra “intencional” transmite a mesma ideia que as expressões “de propósito”, “deliberado” ou “premeditado”. Uma ação realizada intencionalmente é aquela executada de forma premeditada. Dessa forma, ao afirmar que a prática da oração deve ser intencional, quero dizer que ela não deve ser realizada apenas quando, após cumprirmos todos os compromissos da nossa agenda diária, sobrar tempo; pelo contrário, deve ser um dos principais compromissos da nossa agenda.
A prática da oração deve ser realizada de forma deliberada e premeditada. É verdade que, durante a agitação do dia, podemos encontrar uma oportunidade não premeditada que nos possibilite orar; contudo, não é correcto nem sábio tentar sustentar uma vida de oração através desses momentos ocasionais, pois eles nem sempre se apresentam.
É necessário reconhecer o fator intencional que a prática da oração exige. Por que depender dos momentos ocasionais para orar, se podemos, de forma sábia, colocar a oração como um dos pontos principais da nossa agenda? Há uma necessidade premente de mudança da nossa parte!
Como é do vosso conhecimento, o maior exemplo de intencionalidade na prática da oração é observado na vida de Jesus. Conforme mencionado anteriormente, Ele tinha o hábito de acordar bem cedo para orar e, também à noite, passava tempo em comunhão com o Pai. Isso atesta que nosso Senhor Jesus era intencional na prática da oração.
Marcos 1:35
“De madrugada, quando ainda estava escuro, Jesus levantou-se, saiu de casa e foi para um lugar deserto, onde ficou a orar.”
Seja intencional na sua vida de oração. E a melhor maneira de demonstrar intencionalidade na oração é ter uma agenda de oração, ainda que não seja escrita. É sábio estabelecer horários específicos para se dedicar a Deus em oração.
- A prática da oração deve ser constante
Dia após dia, o crente deve dedicar-se à oração. A noção de orar apenas uma vez por semana não condiz com o entendimento bíblico da postura do crente em relação à oração. O crente é instado a orar constantemente. “Orem continuamente”, disse o apóstolo em 1 Tessalonicenses 5:17.
Ao longo de sua vida, o apóstolo Paulo exemplificou um compromisso inabalável com a oração. Ele orava de forma constante, como podemos perceber ao ler a introdução da maioria de suas cartas. Intercedia pelos seus irmãos, e sua prática de oração era diária (Rm 1:9-10; Ef 1:15-16; Cl 1:3 Fl 1:4; 1 Ts 1:2). Em 1 Tessalonicenses 3:10, Paulo afirmou que orava noite e dia, e o mesmo é evidenciado em 2 Timóteo 1:3.
A oração representa uma das mais significativas expressões de comunhão com Deus; portanto, deve ser praticada de forma contínua. Num relacionamento de amizade, espera-se que haja uma constante conversa; o mesmo se aplica aos relacionamentos entre marido e mulher. Quanto mais entre Deus e os Homens?
- A prática da oração independe das circunstâncias
Independentemente das circunstâncias em que nos encontramos, devemos dedicar-nos à oração. Nos nossos relacionamentos horizontais, por vezes, devido às nossas condições emocionais resultantes de diversos factores, como o stress do trabalho e outras situações, preferimos manter-nos em silêncio para lidar com os nossos sentimentos. Há momentos em que é apropriado permanecer em silêncio para depois falar.
Entretanto, no nosso relacionamento vertical, sempre é oportuno falar com Deus. Independentemente das circunstâncias em que nos encontramos, devemos dirigir-nos a Deus, pois, do contrário, as palavras de Paulo (Orem continuamente) perderiam o seu significado. Além disso, temos inúmeras passagens nas Escrituras que ilustram essa verdade. Por exemplo, quando Ana estava angustiada e triste por ter sido deixada estéril pelo Senhor, ela chorou muito e orou ao Senhor (1 Samuel 1:9-10). Mesmo após o Senhor ter atendido o seu clamor, ela continuou a dirigir-se a Deus em oração (1 Samuel 2:1-11).
Possivelmente, o livro que melhor ilustra o facto de que a prática da oração independe das circunstâncias é o livro dos Salmos. Nele, vemos os salmistas dirigirem-se a Deus nas mais diversas situações da vida. Por exemplo, no Salmo 3, Davi, cercado por tribulação e angústia enquanto fugia de Absalão, expressou a sua confiança em Deus. No Salmo 18, o salmista agradece ao Senhor por ter sido livrado. No Salmo 19, o salmista louva a Deus pelos dois grandes dons dados à humanidade: a criação e a lei. No Salmo 51, o salmista, arrependido dos seus pecados, suplica por reconciliação e transformação por parte de Deus. Em momentos de angústia, tranquilidade, contemplação das obras de Deus, arrependimento ou em qualquer outra circunstância, devemos praticar a oração.
Irmãos, a minha esperança é que, através deste ensino, Deus desperte em nossos corações o desejo pela oração e nos leve a aceitar a verdade de que devemos orar de forma intencional e constante em todas as circunstâncias.
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